Vestido Vermelho.



- Não quero descrever aquele dia.
- Não quero pensar em como você me machucou.
- Em como foi cruel, em como esmigalhou meu coração.

Naquele sábado, numa tarde de primavera, eu vesti minha melhor roupa.
Um vestido vermelho, sutil. Pouco decote, mas ainda revelava coisas que meus lábios não conseguiam dizer. Era meu corpo falando a linguagem do amor, assim eu pensava.
Pintei minhas unhas, deixei os cabelos soltos da forma que ele gostava.
Fiz tudo para agradar! Tudo.
- Não quero descrever aquele dia.
- Não quero pensar em como você me machucou.
- Em como foi cruel, em como esmigalhou meu coração.
Por um instante, enquanto caminhava na direção dele, pensei que o momento seria o mais importante. Acreditei que neste dia ele declararia para o mundo que eu era tudo aquilo que ele sempre quis. Que eu era a mulher que ele sempre sonhou, a futura mãe dos seus filhos.
- Aquele maldito dia...
Quando eu o vi, me esperando na escada, naquela escada que era mais nossa do que de qualquer um, na escada onde demos nosso primeiro beijo, percebi que por mais de 5 anos eu não havia sido eu mesma.
Havia sido um outro alguém, um sonho, uma ilusão.
Me empenhei tanto em agradar, em ser, que acabei esquecendo o que verdadeiramente sou.
Após 5 anos dele, de nós dois, eu enxerguei isso.
Minhas pernas perderam o controle, fiquei sem ar. Tudo parecia rodar.
E quando ele se ajoelhou, me entregou o buquê mais perfeito com as alianças mais douradas, amarradas no cetim que prendiam as flores, descobri que tudo em mim era uma mentira.
Uma mentira criada por ele. Uma mentira dele. Por 5 anos eu fui uma marionete. Eu fui a mulher ideal. Apenas naquele instante fui capaz de perceber. Apenas quando olhei a perfeição que era aquela cena, as flores, as alianças e eu mesma, foi quando o peso de um futuro perfeito me atingiu.
Eu não sou perfeita. Adoro ser intransigente, errónea e nada linear, uniforme.
Segurei o buquê, toquei meus dedos nas alianças, olhei nos olhos do homem que pensei amar. Respirei fundo, olhei o cenário em volta e sorri. Até hoje, aquele foi o meu melhor sorriso. Olhei aquele vestido, o vestido vermelho que mandei costurar especialmente para a ocasião. Um vestido que mostrava o quão comprometida eu poderia ser e quão presa eu estava a ele. Tentando não pensar na tola que fui, joguei tudo pro alto: flores, anéis, futuro!
Sem promessas, sem planos, sem amarras ou prisões. Joguei o vestido fora também, assim que cheguei em casa.
Não queria nada que me fizesse lembrar aquela dor. A dor de me perder.
E aqui estou, como sempre desejei estar. Perante a você, sem disfarces. Escrevendo mais uma página da minha vida, mesmo que esta, hoje, eu escreva sozinha.

- Não quero esquecer aquele dia.
- Não quero esquecer a alegria que foi deixar você.
- Em como eu fui cruel, em como esmigalhei seu coração.
- Bendito seja hoje.

Ps: texto para o projeto Bloínquês. 4ª edição visual.

7 Comentários:

Carolinne comentou:

Realmente, em um relacionamento não devemos nos perder, temos que agir como nós mesmos, não nos prender literalmente e ser o que aquela pessoa quer que sejamos! Lindo texto! E Lindo blog! :D

Unknown comentou:

Obrigada! *-*

Nooy comentou:

Amiiiiiiga, minha diva *--* Adorei to me sentindo um pouco assim me perdendo...
Texto perfeito muito tudo! sou sua fÃ

Unknown comentou:

Eu é que sou sua fã!!! Obrigada!

Ady Joana comentou:

Amor, muito obrigada pelo seu coments, ameei !
EU AMO SEUS TEXTOS, CONTINUE SEMPRE SEMPRE ESCREEVEENDO ! :D

Diana Góes comentou:

Nossa... do mal!
heuehehueuehueh
tá legal o texto
bjinho

Carla Ribeiro comentou:

Vim ler o texto xará do meu! Lindo demais e, é claro, com um sutil toque de sarcasmo. Adorei.

 
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